No dia dessa fotografia, acreditem, eu resolvi aprontar e dar uma fugida de casa. Simplesmente saí correndo na avenida Getúlio Vargas, ladeira abaixo, no rumo da avenida Sete de Setembro, onde estava passando naquele instante uma tradicional procissão de Nossa Senhora.
Quando menos esperei, fui alcançado pela Babá e trazido a força para casa. No caminho de volta, de longe já dava para eu ver a minha mãe com a cara amarrada me esperando no portão. Não bastasse isso, a Babá ainda fazia comigo aquele terror: – é hoje que tu vais apanhar!
A cada instante de aproximação, o coração batia mais forte. Já chegando perto, percebi que mamãe batia com o pé no chão a minha espera. Isso era um mau sinal. Só me restava arrumar rápido uma desculpa convincente para a minha fugida ou a peia ia comer solta.
Frente a frente, olho no olho, dona Rosalina me encarou furiosa e perguntou:
– Onde tu pensas que estavas indo Em-ma-nu-el?
Com a cara de menino arrependido e já soluçando antes mesmo de começar a apanhar, respondi:
– Pô mãe, eu precisava ver Nossa Senhora de pertinho.
Ufa! Não é que a desculpa deu certo. Desarmei a minha mãe. Imagina se alguém teria coragem de cometer o pecado de bater num filho que só estava fugindo de casa para ver a Nossa Senhora.
Dessa vez eu me dei bem. Continuo acreditando até hoje que foi Nossa Senhora que buzinou aquela resposta no meu ouvido e me safou de uns bons catiripapos. Mas, nem sempre contei com a ajuda dela para dar desculpas para os meus maus feitos, apesar dos constantes apelos.