Na minha juventude a malhação do Judas era uma tradição muito legal. O sábado de aleluia tinha o seu encanto.
Eu morava na Avenida Getúlio Vargas, já chegando na rua Ramos Ferreira. Era sagrado no sábado de aleluia termos o nosso Judas amarrado no poste bem próximo de casa. Minha avó Graziela cuidava de separar e guardar toda a indumentária para a criação do Judas. Nada podia faltar, nem mesmo a peruca. O Judas era todo ele criado e preparado por dois colegas, os irmãos Geraldo e Zezinho, que moravam na Vila Mimi, bem ao lado de nossa casa. Eles conheciam a arte da costura e faziam calças e camisas para muita gente da rua. Eu mesmo usei muitas calças e camisas confeccionadas pelos irmãos, Comprávamos os tecidos na Loja Pernambucana e escolhíamos os modelos nas revistas de moda da época.
Voltando ao Judas, a cabeça e a peruca do boneco eram preparadas por Dedé, tio dos irmãos Geraldo e Zezinho. Ele era um artista plástico conhecido na cidade pelos seus belos trabalhos, principalmente no carnaval. Infelizmente todos já não estão mais conosco neste plano.
Certo ano, colocamos o Judas no poste e amarramos um fio no dedão de uma das mãos. Esse fio era longo e quando puxado a distância por alguém escondido, o braço levantava como se o Judas estivesse fazendo sinal de parada. A ideia era exatamente essa – quando o motorista do taxi ou ônibus se aproximava, acabava parando ao sinal do Judas. Quando percebiam que era uma brincadeira, seguiam em frente. Uns xingavam e outros curtiam a brincadeira numa boa. Lembro apenas uma única vez que a brincadeira quase termina mal. Um fusquinha particular passou e quem estava dentro viu a brincadeira de Judas. Subiram e desceram a Getúlio Vargas mais de uma vez. Passavam lentamente em frente ao Judas e isso chamou a atenção da turma da rua. Pareciam dispostos a arrancar o Judas do poste e levar,
Quando o carona que estava no fusquinha suspeito abriu a porta e ameaçou descer do carro para pegar o Judas, uma galera saiu de dentro da Vila Mimi aos gritos de Pega! Pega! Pega! O sujeito foi rápido em fechar de volta a porta, mas o motorista assustado não foi suficientemente rápido para arrancar e escapar dos chutes na porta do fusquinha. Asseguro que foram muitas as bicudas na porta do fusquinha, suficientes para não voltarem mais.